Nova exposição de Hildebrando de Melo: Entre desenhos e pinturas, por dentro de "DEUS"
Por: Nadine SiegertNas suas novas series, Hildebrando de Melo dá um passo mais longe em encontrar uma expressão visual das criaturas que existem entre o universo de Deus e da humanidade. Para o artista, pintar é um processo que torna o seu mundo inteligível, uma forma de apropriação de um meio as vezes hostil. Os desenhos e pinturas de grande dimensão, combinando remendos de cor com a característica marcada do artista, linhas rectas. Parcialmente, as criaturas parecem insectos ou animais híbridos que lutam consigo mesmo e tropeçam nos seus próprios membros. Ao passo que em anteriores trabalhos, Hildebrando de Melo desenvolveu narrações de conflito entre o bem e o mal, em DEUS a luta tem lugar interiormente com elas próprias, as criaturas. Elas aparecem fortes e vulneráveis ao mesmo tempo, como adolescentes imaturos nos seus anos de puberdade, entre vaidade e auto-destruição.
Nadine Siegert: As series consistem ambas em desenhos e pinturas. Qual é a relação entre as duas Disciplinas ? São os desenhos esboços ou obras de arte definitivas ?
Hildebrando de Melo: Os desenhos são a metáfora, eles são o resultado de ter praticado, da experiência de pintar. Eles são parte do caminho que tens de percorrer para ser possível terminar um trabalho. É igual a exercitar para ser melhor a próxima vez. Não é acerca de arte como arte ela própria, mas arte como um processo, arte em processo.
N.S: Em series anteriores, as Cores surgem pelos motivos e pelas direcções das linhas. Nesta nova series DEUS, as cores do fundo parece ter a sua própria importância?
H.M: As duas interacções dos elementos é muito importante, um complementa o outro, e os dois fundos e motivos juntos tornam-se um só. Isto resulta no dialogo entre os diferentes elementos. É assim que o trabalho nasce e se torna único.
N.S: Em trabalhos anteriores como M´Bilu, tu trabalhaste com a ideia do bem e do mal. Isto continua a ser um dos teus maiores interesses. O que mudou desde então?
H.M: Sim, eu estou muito preocupado com o conceito do livre arbítrio e as questões existencialistas. Isto é parte de mim como ser humano. Para mim, é lamentável de ver a dinâmica do mundo, em particular aqui em Angola. Mas ao mesmo tempo, eu sinto alegria de eu ser capaz de expressar esta tristeza no meu trabalho. No termo das minhas preocupações, nada mudou desde as series M´Bilu. Mas o que é possivelmente novo em DEUS são as figurações singulares. Continua a ser um processo, mas sinto que são mais transcendentes. Para mim as figuras são reminiscentes a ideia Italiana ” Sprezatura ”, acepção da beleza da facilidade, suavidade. É por isso que os insectos se movem tão graciosamente. Eu apresento-os singularmente agora, porque isto é parte da minha viagem artística. Eu sempre estive interessado numa espécie de mutação de mim, nos últimos doze anos.
N.S: Representam as criaturas no teu trabalho algo ou alguém na tua sociedade contemporânea ou antes figuras arquetípicas que existem atrás do tempo e do espaço?
H.M: Elas têm este duplo sentido, e elas representam os dois lados. Um é um comentário a nossa sociedade contemporânea em que nós vivemos o profundo caos. Na nossa vida do dia a dia nós experienciamos falta de agua, cortes de energia, e falta de sistema de esgotos. As figuras traduzem as caras das pessoas em Luanda. Elas interpretam a agonia que vivemos. Por outro lado é uma exploração artística e revelação do universo divino.
N.S: No passado mês exibiste o teu trabalho na Europa? Aonde encontras melhor reconhecimento para o teu trabalho estes dias ? Angola é o lugar certo para se ser artista neste momento? O que mudou nos últimos dez anos, na primeira década de paz após a guerra civil?
H.M: O reconhecimento do meu trabalho virá mais tarde, julgo eu. Agora, eu só tenho que trabalhar mais e arduamente. Aonde eu for, eu sou de Angola. Mas quando eu crio a minha pintura, eu sinto-me como um cidadão do mundo, como um cosmopolita. Hoje, Angola esta mais pacifica desde que a guerra acabou, mas um novo conflito começou por justiça social. A economia do pais é altamente dependente dos recursos naturais, como petróleo e diamantes, o que faz o desenvolvimento social difícil por varias razões.
Uma gentileza: Assessoria de Hildebrando de Melo