Jorge António: « esse é um filme histórico»

No domingo passado, à tarde, esteve em exibição, no Cine Nacional, o documentário sobre a vida e obra de Liceu Vieira Dias, o rosto mais visível do histórico grupo e precursor da música popular angolana, os Ngola Ritmos. A produção do documentário levou 2 ano e já roda o mundo nos maiores festivais. Em Angola, a apresentação oficial foi a pedido da organização da 2ª Trienal de Luanda que tornou possível o evento do domingo passado. O Adriano Repórter conversou com o realizador de «o lendário tio Liceu e os Ngola Ritmos», Jorge António. Eis a entrevista.


Adriano Repórter (AR): Quando foi produzido o filme e qual é tempo de duração?
Jorge António (JA): O filme tem a duração, aliás os meus documentários têm todos a mesma duração, se quiseres base de um documentário, que a partida é destinado à televisão. Este documentário, por acaso, tem 55 minutos. Começou a ser produzido logo depois do término do documentário que fiz sobre o Kuduro. Terminei o Kuduro em 2007 e comecei logo a produzir este documentário, digamos que tem uma produção desde 2008 e foi acabado em 2010. A estreia aconteceu em Lisboa, no festival Indie Lisboa que aconteceu em Abril.

AR: Fala-nos um pouco mais desse documentário.
JA: No fundo é um filme histórico que fala da história política e social de Angola, da ligação também com Portugal e com a PIDE e dá também um apontamento do pós - independência. Os mais jovens se calhar não sabem mas o filme do António Ole que ele já fez depois da independência, por exemplo, foi censurado pelo próprio governo e ficou censurado durante 11 anos. O que quer dizer que a própria figura dos Ngola Ritmos foram abafados pele regime colonial e depois pelo próprio regime pelo qual eles estavam lutando. Isso levou a um atraso na divulgação da música e da história dos Ngola Ritmos.

AR: Disse que o filme foi estreado em Portugal. Para além deste, onde mais o documentário foi exibido?
JA: A estreia do filme foi no festival Indie, no dia 30 de Abril. Eu fiquei muito contente porque foi numa grande sala, foi na Culturgest, e estavam perto de 800 pessoas na sala, não só a comunidade angolana que vive em Lisboa, mas jovens, artistas e aqueles portugueses saudosistas de Angola que viveram em Angola e lembram-se dos Ngola Ritmos. Acho que correu muito bem, houve pessoas que cantaram as músicas, choraram, etc. Depois disso, tem corrido alguns festivais. Passou na Alemanha no festival de Beirute, passou no Docanemi em Moçambique também, passou noutra amostra em Lisboa, agora vai passar na fonotec, festival de Lisboa e vai para o Brasil depois de Luanda.

AR: Como surgiu a ideia do filme.
JA: Isso tudo começou porque o musico angolano Mário Rui Silva, um excelente guitarrista que vive em Paris, escreveu um livro que se chama história da música popular angolana. Foi o que me desafiou e foi com ele que trabalhei na estrutura base nessa trilogia da música.

AR: Projectos futuros.
JA: Neste momento estou a preparar uma nova longa-metragem para fazer em co-produção com Angola, que é a adaptação de um conto fantástico do escritor angolano que se chamava Henriques Abrantes. É um filme que eu quero começar a rodar ainda nesse ano. Acabamos os casting´s há 15 dias atrás, vou acabar casting em Lisboa. A longa-metragem se chama o senhor do areal. 



 Biografigrafia
Nasce em Lisboa a 8 de Junho de 1966.
Durante os estudos secundários inicia uma actividade cine clubista e realiza uma dezena de filmes amadores em suporte 8mm e Super 8.

Em 1985 ingressa na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, que termina em 1988, especializando-se na área de Produção. Desde então está ligado ao cinema e audiovisuais, tendo colaborado com Paulo Branco, Atalanta Filmes, Cunha Telles, Shots, Arca-Filme, Latina-Europa, Fundação Gulbenkian, RTP, Instituto Camões, Rosa Filmes, Cinemate, LxFilmes entre outros portugueses e estrangeiros em mais de quatro dezenas de produções, onde se destaca: Filha da Mãe, Non, ou a Vã Glória de Mandar, Lusitânea Expresso, Pop-Off, Corte de Cabelo, Suspiros de Espanã, Macadam Tribu, Morte no Estádio, The Boy and The Sea  etc.

Participa em Portugal e no estrangeiro em Encontros, Conferências e Workshops sobre cinema. Fomenta e colabora na edição de livros e revistas tais como: Revista de Cinema, Cinema em Português, Cartazes de Cinema, Cadernos de Cinema, Cinema em Angola, Dicionário da Lusofonia, Cena Lusófona, Boletim IACAM etc.
Em 1991 inicia-se na realização de cinema com a curta-metragem, O Funeral e em 1993 realiza a longa-metragem e 1ª co-produção luso-angolana, O Miradouro da Lua. 
É, também desde 1995, o Produtor Executivo da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, da coreógrafa e investigadora Ana Clara Guerra Marques, organizando e produzindo Workshops, Espectáculos e Tournées em países como Angola, Portugal, Polónia, Índia, Gabão, Camarões, Congo, China etc.
Foi membro do júri ICAM no Concurso Selectivo às Co-Produções  em 2004; membro do júri ICAM no Concurso Selectivo a Co-Produções com países dos Palop’s em 2004; membro do júri oficial do Festival Caminhos do Cinema Português 2006; membro do júri ICAM no Concurso Festivais de Cinema 2006; membro do júri oficial dos Encontros de Viana – Cinema e Vídeo 2008; membro do júri oficial FESTJovem 2009.
Foi também entre 2007/2009 consultor para os assuntos internacionais do Instituto Angolano de Cinema, Audiovisual e Multimédia e Membro da Comissão Organizadora do 1º Festival Internacional de Cinema de Luanda (2008).
Filmografia
(Seleccionada)


1992 – O Funeral (Cm)

1993 – O Miradouro da Lua (Lm)

1996 – Uma Frase Qualquer (Doc)

2000 – Morte no Estádio (TV - Argumento)

2003 – Outras Frases (Doc)

2004 - A Utopia do Padre Himalaya (Doc)

2005 - Histórias da Vida na Terra (Série Doc. TV) (co-realização 2 epis.)

2005 - Angola, Histórias da música popular (Doc)

2005 - The Boy and the Sea, de Tomas Donela (Cm) (Produtor)

2006 – A Alma de um Povo, de Adulai Jamanca (Doc) (Produtor)

2007 – Kuduro, Fogo no Museke (Doc)

2010 – O Lendário “Tio Liceu” e os Ngola Ritmos (Doc)

2010 -  Outros Rituais mais ou menos (Doc) (em pós-produção)

2010 – Os Senhores do Areal (Longa metragem – ficção) (em preparação)

Publicado por: Adriano de Sousa às 8:43 PM. Matéria encontrada em . Você pode acompanhar quaisquer matéria relacionada ao assunto através do RSS 2.0.